quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Há um ser dentro de mim

Há um ser dentro de mim



Às vezes regresso no tempo
Ou é o tempo que regressa em mim
De repente sinto-me criança
Sentimento que
Enternecidamente acarinho
Porventura a criança
Que em mim habita
Que tem morada em todos nós
Valiosa herança de nossos avós
Porque mistério impenetrável
Na sua vida eu vivi
No seu sentir eu senti
Pelo seu ser passei
Num passo adiante que dei no tempo
Emergi das cinzas
Consciente de novo me fiz
Mas esse ente
Que dentro de mim mora
Às vezes sinto-o soltar-se
Mas nunca perder o modelo
Que lúcido em mim vê

Contradições

Contradições



A Natureza às vezes desconcerta-me
Apesar da seriedade que sempre põe nas suas leis.
É fácil deslumbrar-me com ela,
Que na primavera renasce, floresce
Como que saindo do frio, da morte.
Desconcerta-me constatar que os lírios do campo
Prenhes de simplicidade e beleza
Brotam espontâneos da mãe terra mas vivificadora.
Os próprios pântanos florescem
E da penedia brota numa alegoria impar
O pascal rosmaninho
-Escatológico processo
Que a beleza arranca à fealdade
Parecendo dar lógica ao absurdo.
Misterioso caminho que num ápice
Me transpõe para outros parâmetros
Do insondável mistério que é viver
Mistério que faz com que a vida de uma criança
O brilho dos seus olhos
O despertar da sua inteligência
Possam ser produto de um acaso sem sentido
Sem a marca do amor autentico
Sem o mínimo senso que a paternidade exige.
Neste navegar no mar dos afectos
Na riqueza do bem querer mais profundo
Estranho é que o absurdo
Se sobreponha ao bom senso.
Sim, desconcerta-me que o homem inteligente
Perca o sentido do essencial
Dos valores que dão sentido à vida
Daquilo que verdadeiramente justifica
E dá sentido
Aos mais transparentes propósitos.

27/04/2009