Poema de meu pai, acompanhado por duas estrofes minhas demonstrando a saudade imensa que reina em mim por ele.
MORENA LINDA
Tive a dita de ver, linda morena,
Teus olhos negros; negros d’ encantar.
Tua rósea boquita, mui pequena,
Feita só p’ra cantar, beijar, amar!...
Francamente, eu digo, com que pena,
Te verei partir; a alma a soluçar.
Por numa, nem sequer, conversa amena,
Este amor meu, poder-te, confessar.
Partirás – De mim algo irá contigo,
Deixarás tua neste peito amigo,
A recordação grata e sedutora!...
E mesmo quando, já depois ausente,
Inda, em canção, ouvirei ardente,
A tua voz de linda sonhadora…
Veríssimo Salvador
SAUDADE
Ao ler teus versos, ardentes, apaixonados
De saudade transbordou meu coração
Ditados por profundo amor, inspirados
Sonho daquele que com mil cuidados
Poisou sobre mim, de pai, a sua mão
Ao longe muito longe no tempo te venero
Saudoso pai que à vida intenso te doas-te
A tua memória guardo qual tesouro
Filigrana modelada no mais puro ouro
Voraz foi o tempo que por ti passou
Olema Correia
sábado, 4 de setembro de 2010
Os meus olhos teu guia
Se estou desperta
Basta que abra os olhos
E a coisa mais simples acontece
Eu vejo, reconheço as coisas
Sinto-me mergulhar
Num mundo de luz e cor.
Mas de trivial que é
Aquilo que vejo
Não me dou conta do milagre.
Mas se penso e me ausculto
Se entro dentro de mim
O incrível faz-se evidente.
Não atinjo, não atino
Na incapacidade de ver
Que a escuridão me atormenta
E a falta de luz não me apascenta
Na ânsia natural de viver.
Entretanto sinto-me ter que ver
Com algo que me é importante
E o maravilhoso acontece
Ao ver que pelos meus olhos
Outra humana criatura
Caminha com segurança
E ousado se abalança
A fazer coisas de monta
Em que ler e escrever
Porventura voltar a sonhar
Tem de relevo um lugar.
*Dedicatória ao meu companheiro de todas as horas, A. B.
Com carinho,
Olema
Basta que abra os olhos
E a coisa mais simples acontece
Eu vejo, reconheço as coisas
Sinto-me mergulhar
Num mundo de luz e cor.
Mas de trivial que é
Aquilo que vejo
Não me dou conta do milagre.
Mas se penso e me ausculto
Se entro dentro de mim
O incrível faz-se evidente.
Não atinjo, não atino
Na incapacidade de ver
Que a escuridão me atormenta
E a falta de luz não me apascenta
Na ânsia natural de viver.
Entretanto sinto-me ter que ver
Com algo que me é importante
E o maravilhoso acontece
Ao ver que pelos meus olhos
Outra humana criatura
Caminha com segurança
E ousado se abalança
A fazer coisas de monta
Em que ler e escrever
Porventura voltar a sonhar
Tem de relevo um lugar.
*Dedicatória ao meu companheiro de todas as horas, A. B.
Com carinho,
Olema
Ainda África
AINDA ÁFRICA
Demandei terras de Angola
Ao amanhecer do meu tempo
Era menina ainda
Por Angola me apaixonei
Por ela me fiquei
Até à idade madura
De África sorvi os cheiros
Vi a grandeza do Imbondeiro
O pôr do sol respirei
Recordo a boa gente
Do futuro a semente
O brotar de uma Nação
Lamento que a guerra
Tenha feito desta terra
Mar de destruição
Terra que se fez mártir
Deveras sacrificada
Sofrida até mais não
Houve gente que a honrou
Por ela se sacrificou
E lhe deu a sua vida
No regresso atribulado
Trouxe comigo a esperança
De lá de novo voltar
Marcas da Guerra:
Olema
Ser Mãe
SER MÃE*
Ser mãe é ser mulher
Da árvore da vida ser fruto generoso
É conhecer dos dias o amargo e o fel
Mas é saber sugar-lhes das alegrias o mel.
Ser mãe é ser entrega desinteressada
É às vezes ser mal amada
É ir buscar tempo ao tempo
Para ao filho extremoso dedicar
É exibir alegria sofrendo
É de ânsias conhecer muitas horas
Do cavalo da vida conhecer as esporas
E na dor ver sempre a esperança.
Mas ser mãe é ser fonte de ternura
É da açucena colher a doçura
A infinita capacidade de se dar.
É dentro de si em medidas sem medida
Sentir todo o poder de amar.
Olema
*Faz hoje 35 anos que dei à luz pela 3ª vez.
Gostava de citar um comentário tocante feito por CaoPoeta quando publiquei o poema acima no Luso-Poemas.
"As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos
filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe á cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do
amor.
HERBERTO HÉLDER
-porque não consigo dizer ou escrever o que sinto;
obrigado por seres."
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